Há História

Há passado,
história
e glória.

A Trindade é considerada a mais bela e antiga cervejaria de Portugal.
Localizada num espaço com oito séculos, o Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos, assim chamados por resgatarem prisioneiros cristãos aos mouros.

Trindade,
cheia de estórias
para contar.

O convento foi fundado no final do século XIII, em 1294 e é também um símbolo de resiliência. Em 1704 foi destruído por um incêndio, em 1755 pelo terramoto que arrasou Lisboa, em 1756 por um novo incêndio. Acabou por desaparecer em 1834 com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal.

Depois de desmantelado, o edifício do Convento da Santíssima Trindade foi comprado em 1835 por Manuel Moreira Garcia, industrial de origem galega que montou na igreja, claustro e refeitório do antigo convento, a Fábrica da Cerveja da Trindade e, no ano seguinte, a Cervejaria Trindade.

Trindade
antiga, nova
e modernista.

Manuel Moreira Garcia remodelou o espaço e fez um grande aproveitamento do revestimento azulejar do antigo Convento da Trindade.

Em 1863, Manuel Moreira Garcia encomendou painéis de azulejos a Luís Ferreira, diretor artístico da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, que, respeitando o gosto excêntrico do proprietário, pintou painéis alegóricos que representam os quatro elementos e as quatro estações (o Inverno foi destruído ainda no século XIX pela reabertura de uma antiga porta de ligação ao Claustro). Já as paredes decoradas com painéis em mosaico de pedra, do século XX, são da autoria da artista plástica Maria Keil, inspirados na calçada Portuguesa.

Trindade de cá,
de lá e dos que
passam por cá.

Em 1934, a Central de Cervejas comprou a Fábrica e a Cervejaria Trindade. Foi sempre eclética e democrática, ponto de passagem obrigatório de jornalistas, atores, músicos, figuras da noite Lisboeta, políticos e militantes.

Na comemoração dos 150 anos, em 1986, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu integrá-la no Património Cultural da Cidade. Em 1997, a Direção Geral de Turismo declarou o imóvel onde se encontra a Cervejaria Trindade Património Cultural da cidade de Lisboa de relevante valor histórico-cultural. No final de 2007 a Cervejaria Trindade foi adquirida pelo Grupo Portugália Restauração.

Cronologia

1294

Uma viagem que começa em 1294.
Fundação de um dos maiores e mais importantes conventos de Lisboa – o da Santíssima Trindade – por Frei Martim Anes, Frei Estêvão de Santarém e Frei João Franco. Os seus monges receberam o nome de Frades Trinos da Redenção dos Cativos, assim designados por ser sua vocação resgatar os prisioneiros aos mouros.

1325

A Rainha Santa Isabel, casada com o Rei D. Dinis, inaugura com grande pompa o novo edifício do Convento da Santíssima Trindade, para cuja construção fez grandes contribuições.

1498

Frei Miguel Contreiras, monge do Convento da Trindade e confessor da Rainha Dona Leonor de Lencastre, mulher de D. João II, funda com o apoio real a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa.

1542

Na Sexta-Feira Santa, numa Capela do Convento da Trindade que foi mais tarde a igrejinha das Chagas, Luis de Camões vê pela primeira vez D.ª Catarina de Ataíde, por quem se apaixona perdidamente e que cantou nos seus poemas.

1708

Destruição do Convento por um violento incêndio.

1755

Nova destruição, praticamente total, pelo terrível terramoto de Lisboa que atingiu fortemente esta colina da cidade. Deste acontecimento nasceu a expressão popular “Caiu o Carmo e a Trindade”, referindo-se à derrocada dos dois conventos com esse nome, para descrever uma grande tragédia.

1766

Destruição parcial do edifício por novo incêndio, logo após a reconstrução que se seguiu ao sismo, e 13 dias após a re-inauguração. Escaparam apenas a Igreja, o Refeitório e a Biblioteca. Nova reconstrução.

1834

Extinção das Ordens Religiosas em Portugal e demolição de parte do convento, sacrificado ao novo plano de urbanização da cidade de Lisboa. No fim desse ano, Manuel Moreira Garcia, industrial de origem galega, começa uma fábrica de cerveja numas instalações precárias aí existentes.

1836

Arrendamento de dois lotes de terreno e das ruínas que aí se encontravam, por Manuel Moreira Garcia. Aqui construiu o prédio onde montou a Fábrica de Cerveja da Trindade, aproveitando as paredes remanescentes do Convento e decorando todas as fachadas exteriores com os azulejos provenientes da demolição do mesmo. Num lote ao lado, construiu a sua casa, que ainda hoje existe.

1840

Abertura do balcão de venda directa de cerveja ao público na Cervejaria Trindade, instalado na primeira sala do que restava do refeitório dos frades Trinos.

1854

A 15 de Fevereiro, Sua Majestade D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, regente em nome do rei D. Pedro V, seu filho, assina Alvará “fazendo mercê a Manuel Moreira Garcia de o tomar por fornecedor de Cerveja da Sua Real Caza, podendo com esse título colocar as Armas Reais no frontispício do seu estabelecimento, a Fábrica de Cerveja da Trindade.”

1863

Revestimento das paredes do antigo refeitório dos Frades Trinos com azulejos pintados por Luís Ferreira, o “Ferreira das Tabuletas”, com motivos de inspiração maçónica. Posteriormente o estabelecimento foi prolongado para o salão seguinte, que o Ferreira decoraria com os belos painéis dos 4 elementos e das estações do ano, enquanto o pintor Vale revestia os tectos e arcos com motivos heráldicos.

1876 / 1920

Domingos Moreira Garcia sucede ao seu pai. Ele e os seus herdeiros gerem a Fábrica da Cerveja da Trindade durante 44 anos.

1920 / 1932

Por morte de Domingos Garcia, os empregados principais da Fábrica e da Cervejaria constituem uma sociedade para a exploração do negócio com apoio do capitalista José Rovisco Pais que acabará por se transformar no seu único dono. Em 1932, com o falecimento de Rovisco Pais, que lega todos os seus bens a instituições de beneficência, a Fábrica da Trindade é posta em hasta pública.

1934

Um século depois da sua fundação, a Fábrica e a Cervejaria da Trindade passam a propriedade dum consórcio cervejeiro. No ano seguinte a Fábrica encerra a sua actividade, e a exploração da Cervejaria é entregue à Sociedade Central de Cervejas, onde se inseria à época a antiga Fábrica de Cervejas Portugália.

1946 / 1948

Obras de ampliação e beneficiação da Cervejaria Trindade. É criado o novo salão no espaço ocupado em tempos pela igreja do convento e, posteriormente, pela fábrica de cerveja. A pequena sala a ele anexa, é construída na galeria do antigo claustro. As paredes de ambas as salas são decoradas por Maria Keil com painéis modernistas em mosaico de pedra, inspirados na calçada lisboeta.

1959

Adaptação de parte da Cervejaria a um restaurante típico de qualidade, o Restaurante Folclore, que mantém um funcionamento independente até 1972.

1974

Restabelecimento da ligação das diversas salas, após o encerramento do Restaurante Folclore, devolvendo à Cervejaria a configuração que lhe havia sido atribuída quando das grandes obras da década de 40.

1986

A Cervejaria Trindade comemorou 150 anos de actividade, ano em que a Câmara Municipal de Lisboa decidiu também integrá-la no Património Cultural da Cidade.

1987

A Secretaria de Estado do Turismo atribuiu à Cervejaria Trindade a medalha de Mérito Turístico no grau Prata, por prestação de serviços relevantes para o turismo Português.

1997

Reconhecimento da Cervejaria da Trindade como “Património de Relevante Valor Histórico-Cultural”, pela Direção Geral de Turismo.

1998

Limpeza e conservação dos azulejos do Ferreira das Tabuletas e intervenção na decoração das duas salas revestidas a azulejos, em que se procurou repôr o estilo característico dos cafés e cervejarias da primeira metade deste século, época em que a Trindade se afirmou decisivamente na capital.

2007

A Cervejaria da Trindade voltou à propriedade do Grupo Portugália Restauração.

2008

Reformulação da imagem de marca, da ementa e da comunicação da Cervejaria Trindade.

2021

A Trindade fecha para obras de conservação e remodelação. Nova decoração de interiores.

2022

Nova reformulação da marca, passa a chamar-se apenas Trindade. Ganha novas cores, um novo posicionamento, um novo Chef Executivo e menu, e uma nova divisão e decoração.

O átrio

Hoje o principal acesso à Trindade está integrada no que resta do antigo convento. Decorada com os painéis de inspiração maçónica de Luís Ferreira, foi durante muitos anos a única sala de atendimento ao público, sendo a restante construção destinada às instalações fabris.

É nesta sala que se concentram os principais painéis de inspiração maçónica da Trindade. Pela sua raridade, sendo talvez mesmo únicos em termos internacionais, este conjunto de azulejaria com simbologia maçónica é hoje considerado património nacional.

O Venerável

O Venerável deve dirigir a sua Loja com Sabedoria, sendo por isso representado pelo Triângulo contendo o olho do Conhecimento. O triângulo com os raios solares, também chamado de delta flamejante, é um símbolo de um ente superior, com a sabedoria para dirigir.

O Secretário

O Secretário, cujo lugar é no oriente, é uma das Luzes da Loja e o quinto oficial na hierarquia da mesma. É sua função ler e redigir as actas das sessões, assim como ler a correspondência dirigida à sua Loja. É por isso representado a elaborar a acta, ou, de acordo com o ritual maçónico, a gravar uma coluna.

O Orador

O Orador tem como principal responsabilidade fiscalizar a aplicação da lei maçónica. O seu lugar é no oriente. É representado com a pomba e o ramo de oliveira, símbolos da paz e da concórdia que o Orador deve ter sempre preesente, em simultâneo com o cumprimento da lei e da justiça maçónicas, representadas pela vara que tem na mão esquerda.

O Primeiro Vigilante

O 1º Vigilante, oficial de uma Loja simbólica, é o segundo na hierarquia da Loja, logo a seguir ao Venerável. Simboliza a Força, pelo que é comum identificar-se com a figura de Hércules.

O Segundo Vigilante

A Lua representa a Coluna dos Aprendizes e é o terceiro oficial na hierarquia da Loja, encarregue da instrução e acompanhamento dos Aprendizes. Simboliza a Beleza.

O refeitório

Antigo refeitório do Convento da Trindade, aqui funcionou a Fábrica de Cerveja da Trindade. Em 1836, como o Átrio era demasiado pequeno para atender todos, prolongou-se para este salão, que foi decorado com painéis de azulejos. À época, o teto foi também decorado pelo pintor Vale com frescos de cores escuras representando motivos heráldicos, trabalho que se perdeu em remodelações posteriores.

A presença de figuras ilustrativas das estações do ano estabelece relação com os solstícios e equinócios comemorados pela Maçonaria. No Refeitório da Trindade estiveram já representadas as quatro estações, mas o Inverno desapareceu quando da reabertura de uma antiga porta de ligação ao Claustro, ainda no século XIX.

Primavera

21 de Março, equinócio da Primavera, representava no passado o início do ano maçónico. Muitas Actas de Lojas maçónicas do século XIX aparecem datadas com o ano a começar nesta data.

Estio

A 21 de Junho, solstício de Verão, a Maçonaria comemora o seu patrono S. João Baptista.

Outono

A 22 de Setembro, equinócio de Outono, marcava a entrada do 2º semestre no ano maçónico.

Terra, Vento, Fogo e Água

Os quatro elementos da Natureza representados na parede norte do Refeitório da Trindade, estão presentes em várias religiões e igualmente no ritual maçónico, em vários momentos, nomeadamente no 1º Grau, na Iniciação, e ainda nos 12º e 29º Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito. Maçonicamente, os quatro elementos correspondem a igual número de fases da vida. A Terra corresponde ao nascimento e infância; o Ar corresponde à juventude, caracterizada pelo tumultuar das paixões; a Água, à idade adulta, já com menos obstáculos; e finalmente o Fogo, à idade mais avançada, onde o saber e a experiência estão presentes.

Indústria e Comércio

As alegorias da Indústria e do Comércio, representadas na parede oriental do Refeitório da Trindade, simbolizam as actividades fundamentais ao desenvolvimento da sociedade e do país, e estiveram sempre presentes no ideário liberal, não só ao longo do século XIX como também na República.

O Claustro

Do Claustro primitivo construído por volta de 1756, é possível ver neste pátio ajardinado os arcos que compunham na época toda a sua fachada norte e o início das fachadas a este e oeste. Apesar de representarem menos de um quarto do Claustro original, estes vestígios dão perfeita noção da sua dimensão e imponência. Os restantes arcos estão integrados nos edifícios vizinhos. É através das dimensões deste Claustro, e também das dimensões da Sala do Refeitório, que podemos sentir ainda hoje a escala do edifício que abrigou um dos maiores e mais importantes Conventos de Lisboa. O trabalho em cantaria das colunas e arcos, sóbrio, mas amplo e elegante, atesta também a prosperidade da Ordem durante o século XVIII.

Sala Maria Keil

Era a antiga Igreja do Convento, e durante aproximadamente 70 anos, entre 1864 e 1935, a Fábrica de Cerveja Trindade. Com o encerramento da fábrica, a sala ficou desocupada durante mais de uma década. Em 1946, com o aumento da procura e no rasto do otimismo e crescimento do pós segunda Guerra Mundial, foram feitas obras de ampliação e aberto este novo salão. Para a sua decoração foi convidada a artista Maria Keil do Amaral. Algarvia, nascida em Silves em 1914, estudante de pintura na Escola Nacional de Belas-Artes em Lisboa e casada com o importante arquiteto Francisco Keil do Amaral, Maria Keil desenvolveu uma série de painéis de mosaico em pedra, inspirados no trabalho de calçada portuguesa, que por sua vez tem as suas raízes ancestrais nos mosaicos que decoravam o pavimento e as paredes das villas e templos romanos. Entre 1959 e 1972, a Sala Maria Keil foi desanexada da Cervejaria Trindade, passando a funcionar como um restaurante independente: o Folclore, um restaurante típico de qualidade, virado para o turismo e divulgação da arte popular portuguesa. Em 1973, com o encerramento do Folclore, a sala foi reintegrada na Cervejaria Trindade.

Trabalho naturalista em calçada portuguesa, datado da década de 40 do século XX, estes painéis são um bom exemplo das correntes artísticas decorativas da segunda geração do movimento modernista português.

Sala dos Arcos

Nesta sala é perfeitamente reconhecível o que resta da galeria norte do Claustro original, reconstruído em 1756. Foi uma grande reconstrução, quase de raiz, do terramoto de 1755. Do edifício do Convento original, inaugurado 430 anos antes, em 1325, pela Rainha Santa Isabel, casada com o Rei D. Dinis, muito pouco sobrou. A tradição popular preservou esse acontecimento dramático na expressão coloquial que traduz uma grande calamidade– “cai o Carmo e a Trindade” – referindo-se ao desabamento dos conventos.